Dançavas
Era quando o silêncio e o gesto se perpetuavam como uma rebelião pelo espaço. Ficávamos ali, público estupefato, impressionados com o desenho ágil dos teus contornos e a vontade escancarada que anunciavas na expressão do teu olhar. A vontade da arte, da síntese, da imagem.
A vontade de vencer o sono e a lucidez todos os dias.
Tem uma nesga de luz no entreaberto das tuas asas geminadas às minhas. Vês?
Eu não entendo, não quero.
Quantas palavras ainda estão por vir?
E esse gole de cerveja quente rasgando e
curando as carnes
de mim.
E essa saudade.
Esse coração de duas cidades.
Nunca perdoarei essa falta.
Nunca perdoarei Belém
– não aquela onde Jesus nasceu –
A Outra.
***
– 2009